Irã diz que pode dialogar sobre programa nuclear; EUA tranquilizam Israel

O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad afirmou nesta sexta-feira que o país está pronto para começar, imediatamente, um diálogo com as potências ocidentais, sobretudo os EUA, a respeito da troca de combustível nuclear.

As declarações foram feitas ao jornal japonês "Yomiuri Shimbum", que publicou entrevista com o chefe de governo, e chegam apenas dois dias depois de o líder supremo da República Islâmica, o aiatolá Ali Khamenei, ter dito que o Irã não vai falar com os EUA a menos que as sanções sejam levantadas.

As duas posições demonstram as contradições iranianas a respeito de seu polêmico programa nuclear e os possíveis acordos e discussões em torno do assunto.

Como líder supremo do país, Khamenei tem mais poder do que Ahmadinejad e sua posição é soberana, o que coloca em xeque as possibilidades reais de que as conversas indicadas pelo presidente à mídia japonesa venham a ocorrer a menos que as potências cancelem as sanções aplicadas contra Teerã.

O Irã está "disposto a retomar, no final de agosto ou início de setembro", o diálogo com o grupo 5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha) sobre o fornecimento de combustível para seu reator de pesquisas, disse o líder iraniano.

Ahmadinejad destacou que Teerã poderá suspender seu programa de enriquecimento de urânio se houver um acordo.

"Prometemos suspender o enriquecimento a 20% se tivermos a garantia do fornecimento de combustível".

"Temos o direito de enriquecer urânio. O Irã jamais provocou uma guerra, nem pretende ter bombas nucleares", afirmou Ahmadinejad.

DIÁLOGO

"O povo iraniano quer o diálogo, que deve se desenvolver com respeito e honestidade (...) mas, lamentavelmente, os países ocidentais sempre fazem ameaças, tentando conservar uma vantagem nas negociações. Isto não é diálogo. O objetivo do diálogo é compreender, e não ameaçar".

As potências ocidentais, lideradas pelos Estados Unidos, rejeitam o enriquecimento de urânio a 20% praticado pelo país persa e suspeitam que o Irã pretende montar uma arma atômica sob a fachada de um programa nuclear civil, o que Teerã nega.

O Irã propôs em 17 de maio passado às grandes potências, com base em um acordo promovido por Brasil e Turquia, a troca de 1.200 quilos de seu urânio enriquecido a 3,5% por 120 quilos de combustível enriquecido a 20%, destinado a um reator de pesquisas médicas em Teerã.

A iniciativa foi ignorada pelas grandes potências, que aprovaram na ONU novas sanções contra o país, no dia 9 de junho.

KHAMENEI

Ainda na quarta-feira (18) o aiatolá Ali Khamenei afirmou que a República Islâmica não vai dialogar com as potências enquanto estiver sob sanções.

"O que eles dizem, nosso presidente e outros estão dizendo, é que nós negociaremos -- sim, nós iremos, mas não com a América porque a América não está negociando honestamente e como um negociador normal", disse o aiatolá em um discurso televisionado.

"Ponham de lado as ameaças e as sanções", afirmou, fazendo alusão direta às punições aprovadas ainda no início de junho no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), mas também às sanções extras aprovadas por Washington nos últimos meses.

Khamenei disse ainda que os EUA deveriam "deixar de ameaçar, deveriam anular as sanções e não deveriam fixar um objetivo para a negociação".

Caso estas demandas sejam atendidas, a República Islâmica "estará pronta" para o diálogo sobre seu polêmico programa nuclear, indicou o aiatolá.

Khamenei tem afirmado que Teerã deve recusar um diálogo com Washington alegando que "negociar sob ameaças não é negociar".

Ainda em agosto, o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad disse que os EUA deveriam "aproveitar a oportunidade" de conversar sobre um intercâmbio de combustível nuclear com o Irã, afirmando que o país estaria pronto para iniciar um diálogo a partir do fim de agosto.

No entanto, tal passo diplomático jamais ocorreria sem a aprovação do aiatolá Khamenei, que tem a última palavra na política iraniana.

BOMBA ATÔMICA
Também nesta sexta-feira os EUA afirmaram a Israel que não acreditam que o Irã consiga construir uma bomba atômica antes do prazo de um ano, indica o jornal americano "The New York Times".

"Pensamos que ainda temos cerca de um ano", disse Gary Samore, principal assessor nuclear do presidente Barack Obama ao jornal.

Samore destacou que os inspetores internacionais têm capacidade para detectar, em questão de semanas, qualquer movimento do Irã para o enriquecimento do urânio em níveis militares, o que permite a Estados Unidos e Israel o tempo necessário para elaborar uma resposta.

Israel, que já indicou que atacará as instalações nucleares do Irã diante da iminência da construção de uma bomba atômica, acredita que Teerã está a apenas alguns meses de enriquecer urânio para uso militar.

Segundo o "Times", a demora no programa iraniano de enriquecimento de urânio pode estar ligada a falhas no desenho das centrífugas ou nos esforços do Ocidente para sabotar o esquema nuclear de Teerã.

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