Caravana no Peru, quinto dia: negócios, Titicaca e soroche

Em Puno, às margens do lago Titicaca, chegamos ao quinto dia no Peru neste sábado, podendo afirmar que foi o mais produtivo desde que saímos de Porto Velho, apesar de boa parte da comitiva ainda sentir os efeitos da altitude e do ar rarefeito: tonturas, dor de cabeça, náuseas e ânsia de vômito, ingredientes suficientes para derrubar qualquer ser humano, principalmente se juntar três destes numa só pessoa, como aconteceu com vários aqui, acometidos pelo “soroche”, o mal estar que atinge a todos que aqui chegam.

A única solução é esperar o organismo se acostumar dando uma ajuda com comprimidos para dilatação dos vasos sanguíneos, chá de coca e muito oxigênio na sala do hotel, onde as filas para respirar por cinco minutos nunca acabavam.

O dia amanheceu ensolarado, sem uma nuvem no céu, e com os termômetros marcando 3 graus! Mas a surpresa maior veio ao abrir a enorme janela do quarto do Hotel Libertador, onde ficamos todos hospedados: uma vista espetacular dos Andes Bolivianos, na frente, e do Lago Titicaca. Posso afirmar sem sombra de dúvida que foi uma das paisagens mais impressionantes que já vi, pela grandeza e beleza também.

A Câmara de Comércio local programou um passeio de barco pelo lago, e os que foram não se arrependeram, pois só as ilhas artificiais construídas pelos Uros, uma tribo local, valeu a pena enfrentar o frio intenso. Quem ficou no hotel aproveitou para dormir até mais tarde e tentar recuperar as energias, como eu. Nosso fotógrafo Nilsinho e o cinegrafista Gilberto foram no passeio do lago e voltaram cheio de “regalos”, ou seja, presentes para quem ficou em Rondônia.

Por volta das 13:00 horas começou uma apresentação do que é o estado de Rondônia em termos de economia e negócios, e o que era para ser apenas uma explanação de meia hora acabou se estendendo até por volta das quatro da tarde, pois os peruanos não paravam de chegar e também expuseram seu potencial com palestras e entrega de comendas.

Após o evento aconteceu uma rápida solenidade no auditório, quando o governador Ivo Cassol recebeu do alcaide (prefeito) de Puno, Luis Butron Castilho, o título de “Membro Ilustre de Puno” e recebeu as chaves da cidade, além de um manto do povo Uro, que vive em ilhas artificiais feitas de junco no lago e haviam recebido a visita de Cassol e da comitiva de manhã. Medalhas foram entregues ao senador Expedito Júnior, representado pelo seu suplente Elcide, ao presidente da Fiero, Denis Baú, aos secretários estaduais de Finanças, José Genaro, e de Desenvolvimento, Marco Antonio Petisco, e ao diretor da Fecomércio, Alberto Horny.

Já passava das quatro da tarde quando fomos almoçar, e mais uma surpresa: aqui não é costume chamar as autoridades à mesa, são colocadas placas de identificação e cada se senta quando quiser. E cada um paga a sua conta, no caso do almoço de hoje US$ 15,00 mais 10%, tanto os de casa quanto os visitantes. E a bebida servida no pacote era água, quem quisesse qualquer outra bebida pagava à parte (cerveja long neck por US$ 3,00, refrigerante por US$ 2,00). Foi servida uma salada de alface, tomatinhos, palmitos e abacate picado de entrada, truta grelhada com arroz e castanhas (prato típico da região) e salada de frutas de sobremesa, tudo muito bem preparado e servido com a qualidade de um hotel cinco estrelas que cobra US$ 110,00 por apartamento simples e US$ 250,00 uma suíte de luxo. Detalhe: todos os quartos tem aquecimento central, TV de plasma de 32 polegadas e granito até o teto no banheiro. Os funcionários fazem de tudo para nos agradar, são educadíssimos e atenciosos, e vestem-se impecavelmente, até o lavador de carros usa gravata e colete!

Após o almoço a Câmara de Comércio de Puno ofereceu presentes às autoridades presentes e seguiu-se a rodada de negócios. Empresários peruanos e rondonienses apresentaram seus produtos, condições de pagamento, logística de entrega, garantias sanitárias e potencial de mercado. Chamou a atenção de todos uma cerveja feita à base de cevada e folha de coca, que não pôde ser provada porque o hotel não autoriza o consumo de bebidas que não forem adquiridas em suas dependências.

Anoitece rápido nesta região, devido às montanhas, às cinco e meia praticamente já estava escuro. Como não participei da rodada de negócios saí para abastecer a camionete e quase morri congelado, mesmo vestindo terno com colete de lã, camiseta de manga comprida por baixo, sobretudo de lã e luvas. E não abasteci, pois os “griffos”, como são chamados os postos de gasolina aqui, fecham às seis da tarde.

Os combustíveis são mais baratos que no Brasil, mas é preciso prestar atenção quando parar na bomba, pois as unidades de volume são americanas, ou seja, em galões. Cada galão equivale à 3,85 litros, e um galão de diesel custa em torno de 10 sólis (a moeda local), aproximadamente R$8,00. Fazendo as contas, em torno de R$ 2,00 o litro de diesel, R$ 1,80 a gasolina comum e R$ 1,90 a gasolina aditivada. Aqui não existe carro bi-combustível e nem se vende álcool nos griffos, ou melhor, nos postos. Os carros e ônibus são muito antigos, não vi nenhum carro zero quilômetro e nem populares, a maioria são as chamadas peruas, aqui tratadas por station wagons, o transporte coletivo é feito em minivans que param em qualquer lugar que o passageiro sinaliza (não existem pontos de parada), e existem muitas motos e mototaxis nas ruas.

Hoje praticamente passamos o dia todo no hotel, o frio e o cansaço não animou ninguém a sair para conhecer Puno, que é conhecida como a nação dos Incas, que saíram daqui para construir Machu-Pichu. A cidade é muito antiga, dizem que tem mais de 2.000 anos, com casas feitas de pedra, e foi construída às margens deste grande lago, o Titicaca, que quer dizer “Puma de Piedra” no idioma inca. Curiosamente uma foto do lago feita por satélite mostra exatamente um grande gato entre as montanhas! E ninguém conseguiu explicar a origem do nome até hoje...

Para amanhã de manhã estava marcado um city tour para conhecermos os pontos turísticos de Puno, mas que foi cancelado pois teremos que levantar cedo para enfrentar, a partir das 9:00 horas, 360 quilômetros até Arequipa, montanha abaixo, a 2.800 metros de altitude, onde nova rodada de negócios nos espera.

Então, até Arequipa!

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Clarim da Amazônia